sábado, 25 de fevereiro de 2012

Marcha das vadias





















Marcha das vadias





















Mexeu com uma, mexeu com todas

Houve ou não estupro? Sinceramente, eu acho que sim, mas essa é minha opinião pessoal mesmo diante da negativa da moça. Em toda essa discussão da qual tentei me ausentar, mas que não consegui, claro, o que mais me chamou a atenção foi o machismo sendo colocado pra fora, assim sem pudor.
Marcha das Vadias de Brasília/2011. Foto de Lis Lemos/Centro Popular da Mulher de Goiás
Chamaram a moça de puta, disseram que “cu de bbbêbada não tem dono”, que “aquela era a prova da comida”, enfim, a imaginação machista foi longe na hora de julgar a mulher que é vítima de estupro. Lembremos aqui que as discussões nos perfis, no Twitter, nas mesas de bares, nos locais de trabalho não foram só sobre a moça do BBB. Foi uma discussão sobre todas nós mulheres e quem nós somos.
Percebi que somos piranhas, que provocamos os homens e depois fazemos cu doce. Somos vadias que enchem a cara e não sabem beber como homens. Somos putas que querem ser estupradas quando desmaiamos pelo excesso de álcool em nosso corpo. E que depois reclamam só porque o cara dá uma bolinadinha de nada. Ou seja, nossos corpos estão no mundo para servir ao prazer dos homens. Nada mais.
Mesmo diante dessa enxurrada de frases e conceitos, ou melhor, preconceitos, contra as mulheres, confesso que todo esse episódio me trouxe um certo alento, digamos assim. Eu explico. Primeiro, que a despeito de qualquer comentário do tipo “o mundo acabando e vocês discutindo BBB”, respondo que, para mim, essa não foi uma discussão sobre BBB. Foi uma discussão sobre estupro. Essa palavra feia que nos esforçamos para não pensar nela e no crime que ela nomeia e que queremos manter longe das nossas conversas.
Quando pensamos em estupro, pensamos em algo bem distante, um crime cometido contra uma mulher sem rosto, sem vida, sem história, por um homem qualquer, em alguma periferia de cidade ou em algum interior bem longe de nós. Para mim, o que ficou claro com toda essa discussão é que conseguimos falar que o estupro acontece em todos os lugares. É preciso lembrar que relações pessoais entre casais são muitas vezes marcadas pela violência, que não se configura só na violência física. Quantas histórias já ouvimos de mulheres que fazem sexo obrigadas com seus parceiros? Ou de mulheres abusadas por homens em boates, em shows?
Marcha das Vadias de Brasília/2011
É importante falar dessa palavra, que causa tanto asco, porque é um crime cometido prioritariamente contra mulheres e meninas. E aí, parece que é um crime menor, sem relevância. Quantas notícias sobre guerras falam das mulheres estupradas pelos inimigos? Quantas matérias jornalísticas falam do atendimento psicológico a uma mulher vítima de estupro?
Acho que só vi esse assunto sendo tão falado assim, na época que explodiram as Marchas das Vadias em todo o país e no mundo todo. Ah, e como foi bom saber dos relatos de quem participou e como foi bom participar dessas manifestações. Porque é isso. É necessário falar. O crime existe, acontece com uma freqüência assustadora, atinge mulheres e meninas de todas as idades, os criminosos são desconhecidos, mas são também os pais, os irmãos, os maridos, os namorados e os ficantes.
E as desculpas para se estuprar uma mulher são muitas. Mas o que temos feito (feministas desse país inteiro) é mostrar que não há desculpas e que NÃO ACEITAMOS MAIS qualquer tipo de violência. E toda essa reação com um caso mostrou que a palavra de ordem “Mexeu com uma, mexeu com todas”, que esteve tão presente nas Marchas das Vadias, está mais forte ainda!

80 anos do voto feminino no Brasil

Em outubro deste ano as eleitoras brasileiras – estima-se 52% do eleitorado – exercerão o direito de votar nas eleições municipais e estaduais. Outras tantas, por sua vez, serão candidatas a prefeitas e vereadoras. Contudo, estes direitos somente foram conquistados pelas mulheres, não sem muito empenho e luta, há 80 anos.
A instituição do voto feminino se deu a partir de uma reforma no Código Eleitoral, com a assinatura do decreto-lei 21.076 de 24 de fevereiro de 1932 pelo então Presidente Getúlio Vargas. O Brasil, em comparação a outros países, pode ser considerado pioneiro. Argentina e França só o fizeram na década de 1940, e Portugal, Suíça, na década de 1970. Nova Zelândia, no entanto, saiu na frente ao instituir o voto feminino em 1893.
Imagem divulgada pelo blog Ilha da Lindalva, que usou como base um selo americano comemorativo de 1991.
Historicamente, mesmo na Grécia, o berço da democracia, as mulheres não possuiam direito ao voto. No século XVIII, filósofos iluministas classificavam as mulheres como pessoas dotadas de uma razão inferior ou mesmo como irracionais. Nada deveria ameaçar os deveres considerados “naturais” das mulheres: cuidar do marido e dos filhos. Em 1793, Olympe de Gouges, a principal personagem feminina da Revolução Francesa, foi guilhotinada sob a acusação de ter desejado ser um homem de Estado e ter esquecido as virtudes próprias de seu sexo.
O sufrágio feminino era a principal bandeira feminista nas primeiras décadas do século XX, que foram marcadas também por diversos acontecimentos revolucionários, a exemplo das lutas do operariado por melhores condições de trabalho, da Semana de Arte Moderna e da fundação do Partido Comunista.
A luta pelo voto feminino no Brasil iniciou-se em 1910, quando a professora Deolinda Daltro fundou, no Rio de Janeiro, o Partido Republicado Feminino. Porém, manifestações mais contundentes só ocorreram em 1919, quando a bióloga Bertha Lutz fundou a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher.
Há nos registros históricos brasileiros uma mulher que conseguiu o alistamento eleitoral logo após a proclamação da República. Para participar das eleições da nova Assembléia Constituinte, ela invocou a “Lei Saraiva”, promulgada em 1881, que determinava direito de voto a qualquer cidadão que tivesse uma renda mínima de 2 mil réis.
O primeiro registro de voto feminino no Brasil do século XX é de 1928, na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte. Celina Guimarães Viana, fez uma petição invocando o artigo 17 da lei eleitoral local: “No Rio Grande do Norte, poderão votar e ser votados, sem distinção de sexos, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas por lei”. Um juiz deu parecer favorável e enviou telegrama ao presidente do Senado Federal, pedindo em nome da mulher brasileira, a aprovação do projeto que instituía o voto feminino, amparando seus direitos políticos reconhecidos na Constituição Federal.
Vale ressaltar que a luta por direitos políticos não veio acompanhada de um questionamento das estruturas patriarcais da sociedade. As sufragistas, que têm em Bertha Lutz sua principal liderança, praticavam um “feminismo comportado”, caracterizado por um discurso conciliatório, que afirmava que o fato da mulher votar não traria conflito para os lares, desviando-as de suas funções “naturais” de zeladora do lar e da maternidade.
Maria Aparecida dos Santos durante votação biométrica realizada em Nuporanga - SP, nas eleições de 2010. Foto de Silva Junior/Folhapress.
Somente a partir de 1946, o voto feminino passou a ser obrigatório, analfabetos e analfabetas só tiveram garantido o voto em 1985, o que significa que, nesse primeiro momento, uma parcela reduzida de mulheres participou dos processos eletivos.
A primeira mulher eleita deputada federal foi Carlota Pereira de Queirós (1892-1982), que tomou posse em 1934 e participou dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. Com a implantação do Estado Novo, em novembro de 1937, houve o fechamento do Legislativo brasileiro e grande recuo das liberdades democráticas. Na retomada do processo de democratização, em 1946, nenhuma mulher foi eleita para a Câmara. Até 1982, o número de mulheres eleitas para o Legislativo brasileiro poderia ser contado nos dedos da mão. Continue lendo em 80 anos do direito de voto feminino no Brasil, por José Eustáquio Diniz Alves.
A luta das mulheres hoje não é mais apenas pelo voto, mas também pela participação política. Um movimento que está ligado a luta das trabalhadoras brasileiras por melhores salários e condições de trabalho. Em 1981, durante uma greve de professoras (carreira majoritariamente feminina) no estado de São Paulo, o ex-governador Paulo Maluf declarou: ”Professora não é mal paga, é mal casada.”
Com o intuito de aumentar a participação política feminina, está em vigor a Lei 9.504, promulgada em 1997, que institui a cota de 30% de candidaturas femininas. Uma das pautas da Reforma Política é aumentar esta cota para 50%, combinada com a lista fechada de candidatos.
Pela primeira vez na história do país, temos uma mulher na presidência da República, e no último pleito, um número expressivo de mulheres eleitas para diversos cargos eletivos. Nas eleições de 2010, foram eleitas 43 deputadas federais (de um total de 513 vagas), no Senado foram 12 senadoras (de um total de 81 vagas). Contudo, considerando que hoje compomos mais da metade do eleitorado brasileiro, o número de mulheres em cargos eletivos ainda é pequeno, menos de 10%.  Apesar das resistências, as mulheres participam ativamente da construção da sociedade brasileira, mesmo que essa participação não seja contada e comemorada pela maioria dos livros de História.

Ligue 180 registra quase 2 mil ligações por dia em 2011



Denúncias de violência física contra mulheres corresponderam a 61,28% das 74.984 ligações feitas relacionadas à violência na Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, no ano passado. O serviço totalizou 667.116 ligações – uma média de 1.828 por dia, segundo balanço divulgado nesta quarta-feira, 7, pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR).
O mais surpreendente nesse balanço é o número de ligações de mulheres em situações de cárcere privado, que chegaram a 343.
“É quase uma denúncia por dia. Assusta o fato de que as mulheres são submetidas a uma situação de propriedade, algo desumano e cruel, sem direito de ir e vir”, avalia Cida Gonçalves, secretária Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres da SPM.

Ela também chama a atenção para outro fato: a maioria das vítimas de violência está no período economicamente produtivo e biologicamente reprodutivo.  “Isso atinge a economia e o desenvolvimento do País, diminuindo sua autoestima e sua dignidade”, completa a secretária.
NO EXTERIOR – O Ligue 180 foi estendido no ano passado para três países, Itália, Portugal e Espanha. E mesmo em curto prazo e sem ampla divulgação, já foram registradas 47 ligações. Isso significa, para a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, que o serviço cumprirá um papel tão importante quanto o prestado no Brasil, para cidadãs brasileiras fora do País.
Além das 45.953 denúncias de agressões nesse período, a Central recebeu 17.987 (23,99%) relatos de violência psicológica;  8.176 (10,90%) de violência moral; 1.298 (1.73%) de violência sexual; e 1.227 de violência patrimonial. 
O PERFIL – O Ligue 180 é majoritariamente (98,97%) procurado por mulheres adultas, em período economicamente produtivo e biologicamente reprodutivo, a maioria entre 30 e 39 anos.
De acordo com o perfil das mulheres que recorrem ao serviço, 31,19% têm idades entre 20 e 29 anos; 32,08%  entre 30 e 39 anos; 17,88% 40 e 49 anos e 8,64% entre 50 e 59 anos.  Também foram registradas ligações feitas por homens: 3.402 .
DEPENDÊNCIA - Os dados do balanço do ano mostram que 59,51% das vítimas não dependem financeiramente do agressor, evidenciando que estas mulheres têm dependência afetiva com os agressores.
Outro aspecto importante no quesito econômico dá conta que 8,45% das vítimas que contataram a Central são beneficiárias de programas de transferência de renda. 
Comunicação Social

Festival Mulheres no Volante comemora 5ª edição com o tema "Nas ruas e nas redes


Liguem os motores pois o feminismo está a passar!

Vvvvrrrrrruuuuuuummmmm!!!




   O Festival Mulheres no Volante (MnV) chega à quinta edição cheio de
novidades. São quatro dias seguidos de programação em Juiz de Fora
(MG), começando em 1º de março. Criado em 2007 por um grupo de artistas
da cidade, o evento comemora cinco anos, reforçando o caráter coletivo
e colaborativo, por meio do uso das novas tecnologias de comunicação. O
festival este ano tem como atrações principais a cantora Ellen Oléria,
de Brasília (DF) e a banda de rock experimental Human Trash (SP), além
de apresentações das locais Matilda, São do Mato, Moletones e GLAM, e
de diversas oficinas, performances, exposições, mostra de vídeos e
debate. A abertura acontece no Mezcla e o restante das atividades no
Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM).
Programação 5.0

   Na abertura oficial do evento, haverá uma edição especial do projeto
Eco Performances Poética, no Mezcla. Serão oferecidas gratuitamente
onze oficinas, voltadas para mulheres, com o objetivo de inseri-las em
meios ainda predominantemente masculinos. No dia 2, acontece a Mostra
Itinerante de Cinema, uma parceria com o Primeiro Plano - Festival de
Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades e, em seguida, o debate “A mulher
na mídia: da representação às formas de intervenção”. Com participação
do coletivo feminista Maria Maria – Mulheres em Movimento (núcleo do
movimento Marcha Mundial das Mulheres em Juiz de Fora), a discussão
será sobre como a mulher é retratada nos meios de comunicação
tradicionais (televisão, rádio, jornal impresso, …) e como a internet
pode ser usada como meio alternativo.


   No dia 3, acontecem os shows de rock, com as bandas locais GLAM e
Moletones, e com as convidadas Human Trash (SP), Ricto (RJ) e
Anti-corpos (SP). O encerramento, no dia 4, terá muita MPB, com as
bandas juiz-foranas São do Mato e Matilda. O fechamento fica por conta
da artista Ellen Oléria (DF), apontada como o maior expoente do cenário
musical brasiliense.

   O MnV engloba ainda diversas manifestações artísticas, tais como
exposições, performances, instalações, desfile temático e dança tribal.
As oficinas e debate são gratuitos. Os ingressos para sábado e domingo
serão vendidos a R$ 8 (cada dia), na portaria do evento.
"Mulheres no Volante - nas ruas e nas redes"
O
festival surgiu em Juiz de Fora (MG), mas, compartilhando experiências
com mulheres de outras regiões, on e offline, surgiu a ideia de criar
uma rede de mulheres no volante pelo feminismo e pela cultura. Em
dezembro de 2011, o MnV realizou sua primeira edição fora de casa, em
Brasília (DF), em conjunto com coletivos, artistas e movimentos sociais
da região. Para 2012, já são preparadas edições do MnV em Campinas
(SP), Rio de Janeiro e São Paulo. A internet é o meio que facilita e
fortalece essas conexões, daí o tema: "Mulheres no Volante - nas ruas e
nas redes". A internet fortalece a articulação em rede, sendo hoje uma
importante ferramenta para superar a situação histórica de desigualdade
das mulheres na sociedade. Dessa forma, o MnV 5.0 busca incentivar a
colaboração, a interatividade, o ativismo, a troca e a criação livre
através da rede.



A programação completa está disponível no site:
http://mulheresnovolante.com/

Outras informações podem ser obtidas pelo e-mail mulheresnovolante@gmail.com

Quem somos

A história da luta feminista é a história da auto-organização das mulheres. É quando as mulheres se organizam politicamente como o sujeito coletivo que são para enfrentar a opressão e a desigualdade.

No movimento misto, não é fácil construir essa auto-organização das mulheres. Por mais que entidades do movimento sindical, social, popular encaminhem lutas identificadas com a esquerda socialista, por libertação, por justiça, não é automático que as relações entre homens e mulheres deixem de reproduzir o que vemos no conjunto da sociedade. As mulheres precisam se organizar e lutar por isso, dentro e fora do seu movimento.

O Movimento Estudantil (ME), por sua vez, dialoga, majoritariamente, com a juventude. Entre jovens homens e jovens mulheres há as mesmas contradições. Na Universidade e no movimento há essas mesmas contradições. Nas entidades estudantis, começando nos CAs e DAs e chegando à UNE, a divisão sexual do trabalho se reproduz. Como nós podemos alterar essas relações, que são sim de poder? Como podemos fazer a Universidade entender que ela não pode fechar os olhos à desigualdade entre homens e mulheres? Como podemos construir um olhar feminista sobre a Universidade, que construa um recorte de gênero para as discussões de curriculum, para as estruturas de poder, para as expressões de violência sexista que acontecem dentro dos campi universitários? Como podemos fazer com que o ME incorpore essas bandeiras? Aliás, como podemos fazer para que o ME supere o machismo e a opressão que existem no seu interior?!!

A União Nacional dos Estudantes tenta responder essas questões mais organizadamente desde 2003, quando a Diretoria de Mulheres da UNE deixou de ser apenas mais uma pasta e passou a ser um espaço de auto-organização das mulheres do ME, que discute, propõe e encaminha políticas de combate à desigualdade. Isso, por si só, a conquista verdadeira dessa Diretoria de Mulheres, já é uma grande vitória.

A partir dela, vieram dois encontros nacionais de mulheres estudantes, veio o diálogo mais permanente com mulheres do ME, vieram os coletivos de mulheres nas universidades, as plenárias de mulheres em encontros nacionais e do movimento de área, e vem muito mais, certamente. A demanda e o reconhecimento são tantos que hoje, além da Diretoria de Mulheres da UNE, há uma 1ª Diretoria de Mulheres. Há uma presença cada vez maior do feminismo nas entidades do ME. Há cada vez mais legitimidade. Há uma política cada vez mais bem desenhada e respaldada. E há um enorme espaço a ser ocupado. Porque enquanto o machismo existir, nós estaremos organizadas – também na UNE – para enfrentá-lo e continuar escrevendo a história da nossa luta.

Alessandra Terribili
Diretora de Mulheres da UNE